CHOPIN E D. YVONNE

Chopin materializado, sentado numa cadeira entrou a narrar, então, os sofrimentos por que passou desde que se reconheceu irremediavelmente doente, atacado pela tuberculose…
Disse da desolação que o dominou ante a impossibilidade de se dedicar aos trabalhos que pretendia levar a efeito, e aludiu às dificuldades financeiras que o afligiram, às humilhações e desgostos daí decorrentes, sem se referir, jamais, à sua grande amiga George Sand.
Mas, à proporção que narrava, evocando o próprio passado terreno, revivendo-o, em si mesmo, transformava-se: voltou àquela fase da sua existência, mostrou-se enfermo, tuberculoso, abatido, rouco, os olhos profundos e pisados, o peito arquejante, cansado pelo esforço da conversação.
Vimo-lo tossir dolorosamente, expectorar, levar o lenço à boca, ter hemoptise!
Vimo-lo suar e enxugar a fronte e o rosto, com o lenço, e sentimos o seu hálito de doente do peito sem o devido trato!
Não mais um Espírito desencarnado, mas um homem gravemente enfermo, com todos os complexos do estado de encarnação!
Chorava, revelando grande sofrimento moral, além do físico.
Assaltada, então, por um intenso e indefinível sentimento de angústia e compaixão, mas ainda meio atordoada pelas últimas gradações do transe, levantámo-nos do leito, ajoelhámo-nos diante dele e nos pusemos a chorar também, pois o médium canaliza para si todas as impressões da entidade com que se comunica.
Então, tínhamos os braços apoiados sobre seus joelhos e as mãos cruzadas como em prece, e ele nos pareceu tão sólido e material como qualquer ser humano.
Dizia sentir febre e tocou nossas mãos com as suas, provando o que dizia: sentimos, com efeito, que aquelas mãos estavam quentes e húmidas, acusando temperatura elevada.
Queixou-se de que tinha o estômago e os intestinos inchados e doloridos, devido à doença, a qual àqueles órgãos também afetara, e, ao dizê-lo, comprimia-os com as mãos.
O sofrimento que nos atingia era intenso e insuportável.
Charles interveio, levantando-o docemente e furtando-o, e a si próprio, de nossa visão.
Mas, antes que se desfizesse de vez o fenômeno, tomámos de suas mãos e beijámo-las, exclamando:
– Adeus, Fred!, pois esse é o tratamento que lhe damos sempre, durante os transes dessa natureza.
Esse fenômeno deixou-nos entristecida e abalada durante muitos dias.
De outra feita, isto é, a 10 de Março de 1958, materializado plenamente à nossa frente, recordando seu estado humano, deixou-se contemplar muito agasalhado com roupa de lã e envolvido num pequeno cobertor, ou manta, que lhe tomava a cabeça e os ombros, emprestando-lhe aspecto feio.
Dizia passar mal durante o inverno e no período das chuvas, e mostrou os pés, que estavam inchados, coisa difícil de um médium poder observar, os pés, numa entidade desencarnada, mesmo quando materializada.
Observámos novamente que suas calças eram de «tecido de lã azul», com a particularidade de mostrar pequenos pontos reluzentes em alto relevo, como gotas de orvalho, as meias também eram de lã, de cor branco marfim, quase creme, e que usava chinelos muito grandes, arrastando-os ao caminhar, parecendo que não lhe pertenciam.
Essa materialização, tão perfeita quanto a antecedente, fez-nos vê-lo sentar-se ao nosso lado, num divã.
Sentimos o contacto da sua presença, a impressão do calor natural a um corpo carnal, como se, realmente, se tratasse de uma pessoa humana que nos visitasse.

Não nos recordamos, porém, de nenhuma conversação substancial, ou doutrinária, que tivéssemos.
Jamais lhe perguntamos algo, e nunca somos a primeira a falar, o que, de igual modo, acontece sempre que nos comunicamos com outros Espíritos.
Note-se que a conversação assim realizada nunca se processa através da palavra enunciada, mas telepáticamente, o que é tanto ou mais eficiente do que o verbo falado, a tal ponto que o médium distingue as vibrações de todos os seus Guias e amigos espirituais, e reconhece-os como se se tratasse do tom vocal de cada um deles.
Asseverou-nos que sabia ser ele muito amado pelos brasileiros, o que particularmente o enternece.
Mas observa que ninguém lhe dirige uma prece, e que necessita desse estímulo para as futuras tarefas que empreenderá, ao reencarnar, quando pretende servir a Deus e ao próximo, o que nunca fêz através da música.
Declarou que, salvo resoluções posteriores, pretende reencarnar no Brasil, país que futuramente muito auxiliará o triunfo moral das criaturas necessitadas de progresso, mas que tal acontecimento só se verificará do ano de 2000 em diante, quando descerá à Terra brilhante falange com o compromisso de levantar, moralizar e sublimar as Artes.
Não poderá precisar a época exata.
Só sabe que será depois do ano de 2000, e que a dita falange será como que capitaneada por Vítor Hugo, Espírito experiente e orientador (a quem se acha ligado por afinidades espirituais seculares), capaz de executar missões dessa natureza.
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